sexta-feira, 14 de junho de 2013

Vendas de 1984 explodem após escândalo de monitoramento dos EUA

Vendas de 1984 crescem 7000% após escândalo de monitoramento dos EUA
Câmeras por todos os lados. Observação 24 horas. Vigilância constante e punições severas. Um quarto de tortura que leva a pessoa à beira da insanidade. Crueldade, totalitarismo e poder. Embora este cenário se encaixe bem no mundo atual (ainda mais com protestos sendo duramente reprimidos em São Paulo), George Orwell já o previa desde 1949, quando publicou o profético “1984”. Citado ocasionalmente quando se fala de instalação de câmeras, controle do Estado sobre as pessoas e o “Big Brother” tolhendo a privacidade do cidadão, Orwell foi convocado pelos leitores mais uma vez.

Isso por que veio à tona um esquema gigante de monitoramento de dados telefônicos e da internet – evidentemente realizado na ilegalidade – operado pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos. A notícia foi tão impactante que “1984” automaticamente foi tirado das prateleiras ou, ainda, teve aumento de 7.000% nas vendas na Amazon, saindo da 12.859ª posição para a 184ª no ranking.

A situação é, de fato, grave. A insegurança gerada em todos aqueles que interpretaram esta notícia como um terrível ato de controle e repressão ao invés de, simplesmente, uma tentativa de proteção foi enorme e muitos começam a refletir sobre os limites do Estado.

Pensando nisso, é inevitável lembrar (pela segunda vez no mesmo ano, após a polêmica da maioridade penal) do incrível “Vigiar e Punir”, do filósofo francês Michel Foucault. Dentro muitas reflexões, a principal é sobre como a punição e a vigilância não têm o propósito de proteger, mas sim de educar e adestrar as pessoas para mantê-las dóceis e obedientes. A ideia de que há um perigo mortal para além de certas fronteiras desencadeia basicamente duas atitudes: obediência, que é almejada e incentivada pelo Estado repressor e protesto, que pode ser inibido ou punido através de penas, prisão, ou ainda os secretos “quartos 101” que existem mundo afora, sem que os obedientes ou temerosos da punição se importem ou desconfie.
Na mesma obra, Foucault ainda fala do “sistema panóptico”, no qual uma torre central em forma de anel permite a observação constante de todos e, ainda, a punição de todos aqueles, sendo um sistema do qual é impossível fugir e ao qual não é possível se opor.

Quando Orwell criou sua Oceânia, me atrevo a dizer que queria fazer com que as pessoas nunca trocassem sua liberdade de pensamento e existência por segurança ou proteção. No entanto, o que parece é que uma maioria ainda prefere a certeza da punição em troca de segurança do que garantir seu direito de liberdade. Que os muitos livros comprados sirvam para incitar uma reflexão no caminho contrário ao do comodismo e do “duplipensar”.

Fonte

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